domingo, 2 de agosto de 2009

ROADIE, O QUE FAZER SEM ELES?


Serginho e Ayala (Roadies do Made in Brazil)

Ser roqueiro no Brasil dos anos 70 significava ter de se virar com o que se tinha à mão, tamanha a precariedade da situação. “Não tinha esse lance de roadie. A gente chamava os amigos para verem o show e eles acabavam levando o equipamento. Coitados!” , relembra o saxofonista Manito, ex-Som Nosso de Cada Dia e atual Os Incríveis. Havia também uma rivalidade “sadia”. Todo mundo era camarada, mas quem tinha o melhor equipamento teoricamente era melhor”, confessa Rolando Castello Junior, baterista do Patrulha do Espaço. Outra dificuldade estava na divulgação das músicas e de novas bandas. “Não existia essa indústria do videoclipe, Internet, revistas especializadas. Para arrumar os discos era um trabalho de garimpo”, diz Oswaldo Vecchione. O guitarrista Luís Sergio Carlini, do Tutti Frutti, também lembra do sofrimento. “Quando um cara comprava uma guitarra, iam uns dez lá na casa dele pra ver... um encordoamento, então, era disputado na base da faca!”, conta.
“Quando tocávamos múscias mais lentas como “Rosa de Hiroshima”, o publico tinha de ficar em silêncio. Senão, ninguém escutava”, conta Gerson Conrad. Se faltava grana para equipamentos – que na maioria eram importados ou caseiros – e uma mídia especializada, sobrava talento. “ De certa forma, essa dificuldade nos levou a montar equipamentos, experimentar, pesquisar... bem diferente de hoje em dia”, enfatiza Arnaldo Baptista.
E com certeza, o que seria dessas bandas de hoje em dia sem o tal dos roadies? Sem eles nada funciona! E um grande exemplo disso se resume em um só homem, em um só mentor, o grande roadie do Made in Brazil, o nosso grande amigo e companheiro, o Paraguaio mais brasileiro que eu conheço, o grande e único AYALA! Esta é minha simples homenagem a grande base dos shows do Made! Repleto de carisma e Rock ‘n Roll. O verdadeiro mestres dos roadies!


Luiz Carlini (guitarrista do Tutti Frutti)

Manito (ex-Casa das Máquinas e atual Os Incríveis)



Mestre dos roadies, Ayala (Roadie do Made)

EMERGINDO DO ROCK 'N ROLL

Oswaldo Vecchione (um dos fundadores e líder do Made in Brazil)


O mestre Oswaldo Vecchione, num ato de heroísmo, vem tentando resgatar o Rock brasileiro setentista com um show intitulado “Heróis do Rock”. O projeto tem rodado a Brasil desde 1998, sobretudo no Sul, e diversas bandas tem participado com o Made in Brazil: Patrulha do Espaço, Bixo da Seda, O Terço, Pholhas, Secos e Molhados, Tutti Frutti, Som Nosso de Cada Dia, Blindagem, Humahuaca, Sangue da Cidade e Terreno Baldio. Oswaldo promete registrar os shows num CD, a ser lançado pelo seu selo, o Made in Brazil Records. E está lutando para relançar preciosidades do Rock nacional. “Acho que os próprios músicos derrubaram o Rock nacional, deixando sempre de comentar sobre outras épocas. Hoje tem molecada achando que o Rock começou nos anos 80. Enquanto isso, lá fora, todos reverenciam as bandas antigas”, lamenta o baterista do Patrulha, Junior. E o mestre Arnaldo Baptista dá a deixa: “Meu irmão, Sérgio Dias, colocou uma frase numa música para mim. Num trecho diz ‘no surrender’ (não se renda). Isso sempre vem na minha cabeça. Não vou abandonar o que defendo”. Tá aí a filosofia de uma geração em que roqueiro brasileiro tinha cara de bandido.


Arnaldo Baptista

Rolando Castello Júnior (Baterista do Patrulha do Espaço)

FRUTO PROIBIDO...


Disco Massacre do Made in Brazil censurado em 1977

Como se não bastasse, o País vivia, na época, sob uma terrível ditadura militar. E o Rock era um dos alvos prediletos dos generais. “ Tive de justificar muitas letras na polícia federal. Fiz uma música em homenagem a minha filha e eles censurara. Alegaram duplo sentido!”, testemunha Oswaldo. “ Lembro de um dia em que comecei a reparar em dois caras me observando de binóculo, em frente meu apartamento. Eles ficavam dias... pô aquilo incomodava!”, desabafa Gerson Conrad. Outro ex-SEM, João Ricardo, teve diversas músicas censuradas, como a inédita “Tristeza Militar”. Ele relembra que o sucesso estrondoso e o visual – por incrível que pareça – ajudaram o Secos e Molhados a escapar da fúria dos militares. “O censor tentava recriminar, ai ver o show e gostava... Devido aquele visual, as crianças e as esposas deles adoravam a banda. Como o cara ia fazer!?” ironiza. “Eles tiravam discos das lojas. Letra tinha de ser mais leve, se não barravam”, lamenta o cantos e guitarrista Sergio Hinds, d’O Terço.
Muitos criaram táticas para driblar a censura, como Raul Seixas, que camuflou o significado real de suas letras por meio da ironia. Mesmo assim, foi preso, torturado e exilou-se para não morrer. No Brasil dos anos 70, o Rock sobrevivia como podia.


Sergio Hinds (guitarrista do grupo O Terço)



Gerson Conrad (ex-Secos e Molhados)

QUEM É ELE? ESSE TAL DE ROCK 'N ROLL


Golpe de Estado

A história do Rock nacional dos anos 70 é muito rica musicalmente – mas, infelizmente, anda meio esquecida. Longe de ter sido um modismo ou uma mera cópia – como muitos alegam – o Brasil foi um celeiro de bandas e sons memoráveis que são descobertas fundamentais para os roqueiros de hoje.
Foi no fim dos anos 60 e ao longo dos 70 que o Rock brasileiro viveu um de seus períodos mais férteis e subestimados. Inspirados pelo surgimento de bandas seminais como Led Zeppelin, Deep Purple e Cream, os roqueiros Brasileiros embarcavam numa viagem sonora ensurdecedora, caindo no gosto popular. A produção roqueira extrapolou durante a década de 70, deixando todo um legado a ser (re) descoberto pelas novas gerações: O Terço, O Peso, Casa das Máquinas, Som Nosso de Cada Dia, Bixo da Seda, A Bolha, Veludo, Joelho de Porco, Patrulha do Espaço, Terreno Baldio, A Chave, Lee Jackson, Vímana, Humahuaca, Blindagem, Sangue da Cidade, Moto Perpétuo (onde tocava o cantor Guilherme Arantes), Módulo Mil, Soma, Barca do Sol,... sem contar com os mais conhecidos, como Secos e Molhados, Raul Seixas, Os Novos Baianos, Mutantes, Made in Brazil e Rita Lee na fase pré-Roberto de Carvalho.


Vímana
Di Castro e Sangue na Cidade